Protocolos Grossos

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Author

Marco Guaspari Worms

Published

December 16, 2021

Tradução do artigo: https://www.usv.com/writing/2016/08/fat-protocols/ Originalmente publicado por Joel Monegro em 8 de Agosto de 2016

Aqui vai uma forma de pensar sobre as diferenças entre Internet e Blockchain. A geração passada de protocolos compartilhados (TCP/IP, HTTP, SMTP, etc.) produziu uma quantia imensurável de valor, mas a maior parte desse valor é capturado e re-agregado no topo na camada de aplicações, grande parte em forma de dados (pense Google, Facebook, e afins). A pilha de camadas da internet, no termo de como o valor é distribuído, é composta de protocolos “finos” e aplicações “grossas”. Conforme o mercado se desenvolveu, nós aprendemos que investir em aplicações produz bastante retorno enquanto investir diretamente em tecnologias de protocolo geralmente produzem baixo retorno.

Camada de protocolos na internet é fina

Essa relação entre protocolos e aplicações é invertida na camada de aplicações de uma blockchain. O valor se concentra na camada compartilhada do protocolo e apenas uma fração desse valor é distribuído para camada de aplicações.

Nós vemos isso claramente nas 2 blockchains predominantes, Bitcoin e Ethereum. A rede Bitcoin tem cerca de 1 trilhão de dólares de capitalização total (tinha 10 bi quando o artigo foi escrito em 2016) e mesmo assim a maioria das empresas construídas em cima dele valem no máximo algumas centenas de milhões, muitas delas infladas quando analisadas pelos padrões comuns de negócio. Similarmente a rede Ethereum tem cerca de meio trilhão de dólares de capitalização (tinha 1 bi quando o artigo foi escrito em 2016 e mal tinha aplicação para rede ainda na época)

Camada de protocolos na blockchain é grossa

Existem duas coisas sobre a maioria dos protocolos baseados em blockchain que fazem essa inversão acontecer: a primeira é a camada de dados compartilhados, e a segunda é a introdução de uma tecnologia criptográfica de token de acesso com algum valor especulativo

Foi feito um artigo do mesmo autor desse texto sobre essa camada de dados compartilhada cerca de 1 anos antes desse artigo ser escrito, apesar de empoeirado os pontos principais permanecem válidos: ao replicar e manter os dados de usuários através de uma rede aberta e descentralizada que quebra silos de informação, ao invés de aplicações individuais controlarem isso, nós reduzimos a barreira de entrada para novas pessoas criarem um ecossistema mais vibrante de serviços e produtos que competem de forma saudável em cima do protocolo.

Como um exemplo concreto, veja como é fácil migrar de serviços quando eles lidam com criptomoedas, em grande parte isso é possível pois todos têm o mesmo acesso aos mesmos dados de carteiras e transações de forma gratuita. Esses serviços não necessariamente cooperam uns com os outros, mas mesmo assim mantém interoperabilidade um com o outro devido a ambos serem construídos em cima dos mesmos protocolos abertos. Isso força o mercado a inovar os produtos em camadas que agregam mais para todos, e muitas vezes criarem produtos radicalmente inovadores.

Mas uma rede aberta e uma camada compartilhada de dados não são o suficiente para promover adesão. O segundo componente que preenche esse papel é o token do protocolo, que é usado pra acessar os serviços fornecidos pela rede (transações no caso do Bitcoin, poder de computação no caso do Ethereum, armazenamento de arquivos no caso do Filecoin)

Um outro autor focou em analisar o token de protocolo do ponto de vista de como eles servem para manter o incentivo a inovação dos protocolos abertos, aqui nós vamos focar em como os tokens ajudam o protocolo a conseguir adesão pública e como isso afeta a distribuição de valor através do que vamos chamar de “ciclo de incentivos do token”

ciclo de incentivos do token
  1. Quando um token obtém valor ele atrai a atenção de pessoas diferentes, sejam especuladoras, desenvolvedoras, ou empreendedoras. Essas pessoas se tornam uma parte altamente interessada no sucesso do protocolo além de estarem financeiramente investidas nele.

  2. A partir disso algumas dessas pessoas constroem produtos e serviços ao redor do protocolo, reconhecendo que o sucesso dessas iniciativas agregaria valor ao token do protocolo.

  3. As iniciativas que têm sucesso atraem mais pessoas e até investidores para o protocolo, que constroem mais aplicações e o ciclo se repete.

Existem dois aspectos a se notar nesse “ciclo de incentivos do token”. O primeiro aspecto é o quanto do crescimento inicial é movido por especulação. A maioria dos tokens são programados pra serem escassos, e conforme o interesse no protocolo cresce o preço do token também cresce e isso aumenta a capitalização total da rede. Às vezes o interesse cresce muito mais rápido que a emissão dos tokens, levando a uma valorização no estilo de bolha.

Com a exceção de esquemas deliberadamente fraudulentos, isso é algo bom. Especulação é comumente o motor da adoção tecnológica (referências dadas pelo autor para essa frase: ref1 ref2). Ambos os aspectos da especulação irracional — a explosão e a queda — podem ser muito benéficos para a inovação tecnológica. A explosão atrai capital e permite os que entraram antes lucrarem, e parte desse lucro é reinvestido em inovação (quantos investidores Ethereum estavam reinvestindo o lucro deles do Bitcoin?), e a queda pode ajudar a adoção a longo prazo da nova tecnologia pois com preços mais baixos mais pessoas conseguem entrar (é só ver quantas empresas foram feitas após a grande queda do bitcoin de 2013)

O segundo aspecto a se notar do “ciclo de incentivos do token” é o que acontece no fim do ciclo. Quando aplicações existem e mostram sinais iniciais de sucesso, seja medido por atenção ou capital, duas coisas acontecem no mercado do token do protocolo: novas pessoas entram, aumentando a demanda por tokens, e os investidores existentes seguram seus tokens antecipando preços maiores no futuro, que faz a demanda ser mais escassa ainda. A soma dessas forças fazem o preço a subir bastante portanto a capitalização total do mercado sobre, e o novo patamar de capitalização total alcançado pelo protocolo gera o efeito que volta o ciclo pro ponto 1

O que é significante sobre esse efeito dinâmico é como o valor é distribuído através da pilha de camadas que temos. A capitalização do mercado do protocolo sempre cresce mais rápido do que o valor combinado das aplicações construídas em cima dele, já que o sucesso da camada de aplicações implica em mais especulação na camada do protocolo. E de novo, aumentar o valor do protocolo ncentiva a competição saudável na camada de aplicação. Junto com a camada de dados compartilhada, que drasticamente diminui a barreira de entrada, o resultado final é um ecossistema vibrante e competitivo de aplicações e o grosso do valor gerado é distribuído para todos que possuem tokens do protocolo. É assim que a camada dos protocolos tokenizados fica grossa e a das aplicações ficam finas.

Isso é uma mudança grande. A combinação de dados abertos com o sistema de incentivos previne os mercados do estilo “vencedor ganha tudo” pras aplicações e cria uma nova categoria de empresas com modelos de negócio fundamentalmente diferentes da camada de protocolo. Muitas dos modelos atuais de como construir negócios e investir não se aplicam nesse novo modelo, e temos mais perguntas do que respostas. Portfólio da USV traz muito conhecimento prático pro autor do artigo e mais conhecimento será dividido conforme for se consolidando.

A tradução desse artigo foi feita livremente por mim (@MarcoWorms) e você pode encontrar mais conteúdo traduzido sobre blockchain e web3 no nosso repositório do web3brasil: https://github.com/web3brasil/web3brasil